Sexta-Feira, 06 de dezembro de 2002. ESTRATÉGIA Diferenças sutis separam os programas de motivação das efêmeras campanhas de estímulo Estimulado, nem sempre motivado THIENE BARRETO Prêmios, aumento de salário, viagens e até distribuição de sorvete. Vale tudo para deixar o funcionário motivado. Ou seria estimulado? São várias as teorias de endomarketing; no entanto, o gestor deve ficar atento para não confundir estímulo com motivação que, diferente do primeiro, perdura a médio e longo prazos. Segundo o dicionário Aurélio, estimular é sinônimo de encorajar, animar. Já motivar é equivalente a despertar o interesse, o entusiasmo. Por mais que muita gente confunda, consultores de Recursos Humanos são unânimes em afirmar que, mesmo tênues, as diferenças entre os dois termos existem e são fundamentais quando o assunto é produtividade e bem-estar dos funcionários. - A motivação é intrínseca ao indivíduo. Quando o empresário distribui brindes e gratificações não está motivando seus profissionais, mas estimulando-os. Na hora, todos são tomados pela euforia. Mas isso logo passa - defende Antônio Andrade, professor de Gestão da Ibmec Business School. Seguindo a concepção do consultor, estímulo seria a palavra mais correta para definir a iniciativa de Luís Fernando Felli, diretor de marketing e vendas da FMC Químicas. Na semana em que o dólar teve uma das maiores altas, o executivo decidiu usar a criatividade para congelar a moeda americana, pelo menos na cabeça dos funcionários. Felli distribuiu sorvete a todos do escritório. Segundo o diretor de marketing e vendas, a intenção foi despertar uma energia positiva, para ver se assim o dólar parava de subir, e, também, mostrar que todos devem manter a cabeça fria e a tranqüilidade para superar os desafios. A estratégia, garante, funcionou, já que o clima ficou mais descontraído e os ânimos, redobrados. O perigo de estímulos do tipo, analisa Antônio Andrade, do Ibmec, é que os funcionários podem acabar se acostumando ao benefício, empenhando-se apenas para receber tal prêmio e necessitando de estímulos constantes. "A motivação inspira e mobiliza a pessoa para seguir em determinada direção. É uma iniciativa própria. O funcionário motivado se compromete com o trabalho", afirma.
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Mal aplicados, estímulos podem acabar desmotivando. O gerente corporativo do Grupo Townsend, Carlos Doppenschmitt, concorda com Andrade, afirmando que, se mal aplicados, os estímulos, ao contrário do esperado, podem acabar funcionando como fator desmotivante. - Uma empresa implantou o sistema de metas e prêmios para os funcionários. Quando a companhia começou a enfrentar problemas financeiros, o presidente decidiu suspender os benefícios. Os profissionais, é claro, perderam o estímulo. Aconteceu o inverso do esperado quando o programa foi desenvolvido - conta o gerente corporativo. Diretor da Acomp Consultoria, Antônio Cesar de Oliveira acredita que o estímulo bem aplicado deve ser encarado pelos gestores como ponto de partida para programas de motivação. De acordo com o consultor, todo funcionário motivado está estimulado, mas não o contrário. - O empresário pode distribuir brindes e prêmios. Isso funciona, mas só a curto prazo. Para ter a eficácia estendida, é necessário implantar programas de motivação que façam com que o funcionário não responda apenas a estímulos externos. Os programas de desenvolvimento de recursos humanos na empresa são um exemplo. Inicialmente, são apenas um estímulo. Caso a iniciativa seja bem planejada, a longo prazo, a motivação dos colaboradores será uma decorrência natural - explica Oliveira. Doppenschmitt, do Grupo Townsend, alerta, no entanto, ser importante que o gestor saiba a hora certa de implantar os programas de motivação. O gerente cita o caso da Motorola como exemplo. Na mesma época em que demitiu grande número de funcionários, a companhia lançou nova linha de produtos. "Foi uma forma de mostrar aos funcionários que permaneceram na companhia que eles eram bons e importantes para a empresa", diz. Outro caso de motivação eficaz é citado por Andrade, do Ibmec. A iniciativa, utilizada por uma concessionária de veículos, estimulava o orgulho dos profissionais. Cada funcionário da empresa que efetuava uma venda tocava um sino, que ficava no centro da loja. A iniciativa, elogia o consultor, funciona porque mexe com o orgulho dos funcionários, dando-lhes o reconhecimento de todos os presentes na loja. "Os profissionais buscam desafios", resume.
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