Domingo,
22 de março de 2009
Rodrigo
March Rio sofre menos com o desemprego. 60% das oportunidades da vez estão ligadas à crise O Rio não pode se queixar. Apesar de toda a crise econômica, o estado demorou mais a sentir os reflexos no mercado de trabalho. Historicamente, sua região metropolitana sempre teve um dos mais baixos índices de desemprego do país, perdendo apenas para Porto Alegre - recentemente Belo Horizonte começa a se destacar. E os grandes investimentos continuam de pé, assim como as oportunidades para as micro e pequenas empresas. Um estudo da consultoria Acomp aponta os dez melhores negócios no estado para 2009: 60% estão ligados à crise. Como os empreendimentos que lidam com manutenção e reparos em geral, que aparecem em primeiro lugar. O professor Antônio César, responsável pela pesquisa, explica que as pessoas, por temerem o desemprego, evitam comprar produtos novos. O setor da tecnologia da informação (TI) vem em seguida, como diferença competitiva para superar a concorrência neste momento. O estudo também aposta numa série de lançamentos imobiliários para consumidores de classe mais baixa, no marketing industrial (para diminuir a queda nas vendas), no comércio de netbooks (mais baratos do que os notebooks) e no turismo interno, puxado pela alta do dólar. Tudo isso gera emprego e renda, sem contar os grandes investimentos em curso na siderurgia, como o da ThyssenKrup CSA, na Zona Oeste; na indústria do petróleo, como o do Complexo Petroquímico (Comperj), em Itaboraí; naval; além das obras do PAC. Foram eles, aliás, e mais a construção civil como um todo, os responsáveis pelo aumento do nível de formalização do emprego no Rio - dado importante, considerando-se que a informalidade por aqui sempre foi alta. O fato chamou a atenção do economista Mauro Osório de Oliveira, professor da UFRJ, que acompanha a evolução do emprego no estado, analisando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ele constatou que o número de postos com carteira assinada tem crescido, enquanto o dos sem carteira diminui. E que o trabalhador por conta própria (dono de negócios sem empregados), que também está na informalidade, cresce abaixo da média: - Temos uma possibilidade de inversão de tendência. Se, por um lado, o crescimento de pessoas ocupadas ainda é baixo, por outro, a formalização tem crescido, aproximando-se da trajetória nacional, pelo IBGE, e até superando-a, segundo dados do Caged de 2008. O número de empregos cresceu 5,01% no país, 5,48% na região metropolitana do Rio e 5,28% na capital. O desafio agora é consolidar esse processo. De março de 2002 a janeiro de 2009, houve crescimento de 31,5% das vagas com carteira nas regiões metropolitanas analisadas pelo IBGE. No Grande Rio, a taxa foi de 27,9%, e, na cidade, 31,2%. Já o emprego sem carteira cresceu 8,4% na média. Mas, na região do Rio caiu 5,1% e na cidade, 15,5%. Na semana passada, números do Caged mostraram que o estado voltou a se destacar no número de contratações. A alta informalidade, típica do Rio, é uma referência negativa, mas, ao mesmo tempo, revela que aqui é menos complicado para o profissional se inserir no mercado de trabalho. E, estatisticamente, como trabalhadores sem carteira e por conta própria são considerados ocupados, a taxa de desemprego se mantém abaixo da média - em janeiro foi de 6,6%, contra 8,2% do total das regiões. Cimar Azeredo, gerente da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, lembra que a região tem uma população mais velha e experiente para montar o próprio negócio, o que facilita o retorno ao mercado. Além disso, carnaval e turismo seguram o desemprego no início do ano, fazendo com que ele suba tardiamente. Fora o elevado índice de funcionários públicos e militares, herança da antiga capital do país. Outro fator que facilita a inserção do trabalhador é a população mais escolarizada, principalmente no nível superior. - E os indicadores tendem a melhorar quando se analisa só a capital - diz Azeredo. OS SETORES EM ALTA ESTE ANO . TI: O desenvolvimento de novas tecnologias fica em evidência num mundo mais competitivo por conta da crise. O estudo prevê maior proliferação de lojas virtuais. . CASAS POPULARES: O governo está lançando suas fichas no PAC da construção civil. . MANUTENÇÃO: O medo do desemprego leva as pessoas a gastarem menos com produtos novos, ou seja, a darem preferência ao conserto de peças antigas. . MARKETING INDUSTRIAL: Também vem a reboque da crise como estratégia para diminuir a queda nas vendas. Ao investir em marketing, a indústria movimenta pequenas empresas. . TURISMO INTERNO: O setor é favorecido pela alta do dólar. . PAC/PETRÓLEO/TV DIGITAL: Quanto aos dois primeiros segmentos, a garantia vem dos investimentos previstos. O estudo diz ainda que a implantação da TV Digital vai gerar muita demanda para empresas de manutenção e instalação. . CONTABILIDADE: A Lei 11.638, de 2007, mudou a forma de as empresas apresentarem a sua contabilidade. A Acomp espera que muitas consultorias sejam contratadas por quem deixou para se adequar na última hora. . VENDA DE NETBOOKS: A aposta nesse comércio se dá porque os minilaptops são mais baratos do que os notebooks. . VESTUÁRIO CUSTOMIZADO: Os jovens da internet trouxeram para o meio empresarial um jeito menos formal de se vestir. . LOJAS DE CONVENIÊNCIA: Com as pessoas com menos tempo, megalojas perdem força para estabelecimentos menores, com variedade de itens de conveniência. Indústria criativa, um dos trunfos do Rio Enquanto o país fechou 2008 com redução de 10,2% no saldo de vagas, no estado houve crescimento de 7% O analista de suporte Kuene Robson, de 36 anos, é um exemplo dessa tendência de redução da informalidade no Rio de Janeiro. Tecnólogo em redes de computadores e cursando direito, ele acaba de ser contratado pela empresa Alterdata, da área de TI. - Sempre trabalhei com informática, mas estava há dois anos e meio no mercado informal - conta Robson, que considera a concorrência grande, por causa da mão-de-obra qualificada no estado. Patricia Carvalho, de 35 anos, também conseguiu uma vaga em meio à crise. Advogada, ela está há pouco mais de uma semana na área de licitações da Personal Service, uma empresa de RH e prestadora de serviços terceirizados. Patricia, no entanto, diz que nunca teve dificuldade em se colocar no mercado do Rio: - Fiquei mês e meio parada, mas por causa da crise. Apesar da crise, número de novas empresas cresceu Dois estudos, um da Firjan e outro do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), encomendado pelo Sebrae, mostram que o Estado do Rio demorou mais a sentir os reflexos dos problemas na economia. Enquanto no país a queda do emprego formal (saldo do número de admissões e demissões) ocorreu já a partir de novembro, no estado os primeiros sinais foram dados em dezembro. As duas análises são baseadas em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). O fato é que o Brasil encerrou 2008 com um saldo de novos postos de trabalho 10,2% menor do que em 2007. Já no Rio, como a desaceleração foi mais fraca, o resultado acabou sendo de 7% a mais. O estudo do Iets também analisou a mesma situação em micro e pequenas empresas, onde os cortes no país chegaram a 45% em dezembro e a 35% no estado. - O Rio de Janeiro acompanhou o restante do país nessa redução da geração de empregos, mas esse ritmo foi menos acentuado por aqui. Não temos atividades industriais tão dependentes de crédito, o setor de serviços responde por 60% do nosso PIB e os grandes investimentos continuam de pé - avalia a diretora de Desenvolvimento Econômico da Firjan, Luciana de Sá. Além da indústria naval e do petróleo - 85% da produção do óleo se dá no estado -, Luciana ressalta que o Rio de Janeiro tem uma indústria criativa muito forte, formada por segmentos como moda, arquitetura, entretenimento, propaganda, entre outros. - Além disso, outra vantagem, e um potencial a ser explorado, está na nossa posição estratégica no Sudeste em relação ao mercado consumidor - acrescenta Luciana. Antônio César de Oliveira, responsável pelo estudo da consultoria Acomp, destaca outras peculiaridades: - Temos uma parceria entre governos como há muito tempo não se via no Brasil, principalmente no Rio, que tinha como praxe fazer oposição ao governo federal. Também temos um polo tecnológico grande em Petrópolis (1) e um reconhecimento internacional forte, o que facilita as relações no exterior. O estado também se revela um bom lugar para montar um negócio. Mesmo com a crise, continua registrando a abertura de empresas. Em fevereiro, surgiram 2.328 novos empreendimentos no estado, segundo a Junta Comercial (Jucerja). Esse número é 4% superior ao de janeiro último e 7% ao de fevereiro do ano passado. Em 2008, o crescimento foi de 12%. A empresária Mônica Araripe apostou num ramo que hoje está sendo beneficiado pelo momento da economia, de acordo com o estudo da Acomp. O brechó infantil chamado Era mais uma vez foi aberto há seis anos, na Barra, e já foi ampliado. - Foi uma ideia que pegou mesmo. Estamos agendando entregas de produtos para daqui a um mês, porque a loja já está muito cheia. Normalmente, o nosso público é formado por casais que já têm um ou dois filhos. Mas, quando a situação aperta, como agora, até pais de primeira viagem nos procuram - observa Mônica. Na opinião do professor Mauro Osório, da UFRJ, para que o estado confirme essa tendência de redução do emprego informal é necessário manter os investimentos previstos em infraestrutura e na indústria previstos no PAC: - Também é de fundamental importância trazer para a pauta a necessidade de organização de um modelo de governança para a região metropolitana, além de aprimorar a discussão sobre as reais vocações da cidade e da região, entre elas, as atividades vinculadas a turismo, entretenimento, cultura, moda e ciência e tecnologia. Violência é um dos desafios que precisam ser superados Nesse processo, um dos problemas a serem enfrentados, na sua avaliação, é a questão da segurança pública. - A violência urbana prejudica, por exemplo, os estabelecimentos de rua, como bares e restaurantes. Por isso, temos que continuar combatendo os chamados estados paralelos e as milícias, consolidando e ampliando políticas de ocupação, como as implementadas no Morro Dona Marta, na Favela do Batan e na Cidade de Deus - conclui Osório..
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Notas da ACOMP : 1- Na matéria saiu publicado Teresópolis, mas a cidade do RJ que possui um polo de tecnologia é Petrópolis. O texto acima, já está corrigido. Clique aqui se desejar saber mais sobre o polo de tecnologia de Petrópolis. 2- Para ver o Resultado da Pesquisa Anual da ACOMP, em ordem de oportunidade, clique aqui. 3-
Neste mesmo dia, domingo, 22/03/2009, participamos de uma outra matéria
do Jornal O Globo, no Caderno de Economia na página 30, do repórter
Bruno Rosa, sobre as vendas nos Supermercados e o comportamento dos Consumidores.
===================================================== Outras Reportagens e Entrevistas relacionadas: Rádio CBN - Consultoria revela os 10 Melhores Negócios para o ano no Rio Agência Brasil - Estudo mostra que agravamento da crise favorece crescimento em vários setores Rádio Nacional - Oportunidades na crise TV Brasil - Os 3 melhores negócios para 2009 Jornal do Brasil - Setor de consertos a todo vapor
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