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Domingo, 24, e Segunda-Feira,
25 de Março de 2002
Jornal
do Lojista
Sem
atropelos na gestão financeira da rede
Dica é que cada unidade seja analisada em separado
Débora
Oliveira
As vendas
aumentaram, acompanhadas pelo incremento do lucro, e o passo seguinte
foi a expansão. Junto com ela, porém, vêm as armadilhas
da gestão financeira compartilhada. A análise do lucro e
despesas em conjunto para duas ou mais lojas pode levar o comerciante
a boicotar um de seus próprios investimentos para aplicar recursos
em outro, prejudicando todos os pontos-de-venda envolvidos.
O principal conselho dos consultores de varejo para quem administra mais
de uma loja é fazer a análise financeira separadamente,
mesmo que a parte contábil seja comum. "A contabilidade -
ou seja, demonstrações de contas, apontamento nos livros,
enfim o cumprimento das leis - pode, caso trate-se de filiais, ser a mesma
para toda a rede. A análise destes dados, porém, merece
atenção em separado", diz o coordenador da área
de consultoria do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec),
Ruy Quintans.
Caso a razão social das lojas seja distinta, até mesmo os
procedimentos contábeis devem ser exclusivos para cada ponto comercial,
como acontece nas seis lojas próprias e 13 franquias da rede de
moda praia Rosa Chá. "Até as metas de vendas são
estipuladas para cada uma delas. Desta forma evitamos o risco de camuflar
prejuízos em determinados locais", conta o proprietário
da marca, Amir Slama, acrescentando que, "eventualmente, uma ajuda
a outra".
Para os consultores de varejo, desfalcar o capital de giro de uma loja
para resolver o aperto financeiro de outra é desaconselhável.
"Quando esta atitude vira hábito, a estratégia comercial
de ambas pode ser prejudicada. O lojista acaba deixando de investir na
expansão de um ponto-de-venda para cobrir prejuízos de outro",
acredita o sócio-diretor da Acomp Consultoria e Treinamento, Antônio
César Carvalho de Oliveira.
Relacionamento
Nas cinco lojas A Perfumista, rede do interior de São Paulo, a
ordem é investir na administração personalizada.
"Cada uma delas, inclusive a loja virtual, tem uma missão,
uma estratégia de marketing, uma forma de relacionamento com o
cliente, gerentes e razão social diferente", conta o proprietário
da rede, Fernando Pasquini.
Um dos motivos para tal atitude é a estrutura tributária.
"Queríamos manter o sistema Simples, que prevê o pagamento
de todos os impostos por cota única, e só poderíamos
mantendo as empresas como de pequeno porte", explica Pasquini. Slama,
da Rosa Chá, arrepende-se de ter seguido o mesmo caminho. "Tenho
a impressão de que o investimento em filiais me traria mais vantagens
fiscais", especula.
Optar por razões sociais diferentes ou por filiais tem seus prós
e contras, segundo o professor do MBA de Varejo da Fundação
Getúlio Vargas (FGV-RJ), Antonio Galvão Vasconcelos. "Quando
se opta pela filial, a complexidade administrativa é maior, mas
o controle contábil fica mais fácil. O lojista pode ter
a mesma conta em banco para todas as lojas, assim como usar o mesmo cartão
de crédito, fazer o mesmo balancete", explica.
Neste caso, até mesmo a folha de pagamento dos funcionários
pode ser única. "Mas a análise das informações
deve ser feita separadamente, principalmente do lucro de cada ponto-de-venda",
alerta Vasconcelos. Já o lojista que opta por inaugurar novas lojas
criando, legalmente, outras empresas, tem como resultado a vantagem fiscal
do imposto Simples, mas torna as atividades do escritório mais
complexas.
- Se há falta de vendedor em uma das lojas, mas na outra sobra
mão-de-obra, a transferência não pode acontecer. O
comerciante precisa demitir aquele vendedor, pagando todos os encargos,
e contratá-lo novamente para onde há falta de profissionais
- exemplifica Vasconcelos. A dica para aqueles que preferem investir em
lojas com Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) distintos
é optar pelo franchising.
- É melhor investir na formatação de franquias e
dedicar-se apenas à parte administrativa - acredita Vasconcelos.
Sejam filiais, lojas com razões sociais distintas ou franquias,
uma das armadilhas da gestão financeira, segundo Oliveira, da Acomp,
é não saber identificar o que é despesa e lucro de
cada ponto-de-venda. "Diferenciar conceitos como custo variável
direto e indireto ainda é uma dificuldade para o pequeno e médio
varejista", diz Oliveira.
Coerência
De acordo com o consultor, o uso de softwares faz com que o lojista fique
livre para pensar na estratégia financeira. "Principalmente
na administração e crescimento do negócio",
acrescenta Oliveira. Outro ponto relevante, segundo o coordenador da área
de consultoria do Ibmec, é haver coerência entre o crescimento
das redes e seu capital de giro.
- Se este capital não aumenta, a expansão tende à
estagnação" completa Quintans. Para evitar tal cenário,
o conselho do sócio-diretor da Acomp é o estudo de viabilidade
econômica antes da abertura de cada nova loja. "A partir deste
estudo, determina-se volume ideal de vendas, tíquete médio,
pro-labore, investimento em marketing, assim como toda a gestão
financeira do ponto-de-venda", resume Oliveira. Mas e quando as lojas
administradas são de ramos diferentes?
Para não
errar
>> PECADOS
Gerir a área de finanças a partir do cálculo único
de lucro, receita e despesa provenientes de lojas diferentes.
Confundir pró-labore com retirada.
Compensar a folha de pagamentos de uma das filiais nas despesas de outra.
Cortar custos em todas as lojas da rede, quando apenas algumas delas precisariam
de tal medida.
Transferir funcionários de uma loja para outra, sendo elas empresas
distintas.
Deixar de investir na expansão de um ponto-de-venda para cobrir
prejuízos de outras lojas.
>> DICAS
Inaugurar novas lojas, com razão social diferente, é a opção
para comerciantes que desejam permanecer pagando o imposto Simples, destinado
a pequenas empresas.
Quando a opção é por lojas com registros distintos
- formando, portanto, empresas diferentes - o franchising pode ser uma
boa opção para manter o foco no negócio.
Cada loja deve ter sua própria gestão financeira, o que
não significa - no caso de filiais - que a contabilidade tenha
que ser diferente para cada uma delas. O importante é diferenciar
receita, lucro e despesa.
A estratégia de marketing, escolha do mix de produtos, assim como
as formas de investir no relacionamento com o cliente devem respeitar
a identidade de cada loja, de acordo com sua localização.
As metas de venda devem ser estabelecidas de forma individual respeitando
o perfil de cada ponto-de-venda.
Morre
loja que descobre prejuízo dois meses depois
No mesmo terreno, dois dos três postos da Rede Record reúnem
bombas de gasolina, lanchonete, vídeo-locadora e loja de conveniência.
Empresas com perfis distintos e, portanto, estratégias financeiras
diferentes. "Só a lanchonete, por ser franquia, tem registro
à parte. Como as outras têm o mesmo CNPJ, a contabilidade
é uma só, mas as contas são analisadas separadamente",
diz a diretora financeira da rede, Maria Aparecida Siufo Schneider.
A observação do fluxo de caixa, receita e despesa de cada
ponto comercial dos postos é a maneira, segundo Maria Aparecida,
de saber "qual está dando lucro e de onde vem o prejuízo".
A análise é feita a partir dos dados emitidos por um escritório
terceirizado de contabilidade. "Os contadores mandam os números
e nós identificamos os possíveis ralos de capital",
diz a diretora financeira da Rede Record.
- A agilidade no varejo é fundamental. Não sobrevive quem
descobre um prejuízo dois meses depois que começou - ressalta
Maria Aparecida, acrescentando que o pagamento dos funcionários
é feito a partir da receita de cada loja. "O mais importante
é saber que os dados contábeis fazem, sempre, alusão
ao passado, enquanto a gestão financeira visa o futuro", resume.
Nota
da ACOMP: Caso Você venha a optar pela abertura de filiais com
razões sociais diferentes, consulte o Balcão do SEBRAE de
sua região ou um Contador de sua confiança.
O proprietário de uma Empresa no Simples não poderá
ter mais que 10% das quotas em outra Empresa, se não perderá
o direito ao Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições
das Micro Empresas e das Empresas de Pequeno Porte.
O Sistema Simples foi criado para reduzir e simplificar a carga tributária
para os Micro e Pequenos Empresários e não para a Expansão
de Negócios ou criação de Rede de Lojas.
A ACOMP poderá ajudá-lo na Expansão de seus Negócios
na formação de sua Rede de Lojas, na Formatação
de sua Franquia, e etc.
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