Sábado, 30 de abril de 2005

Economia & Negócios

Filho com dívidas, mãe sem presente

Renda tomada por prestações e medo dos juros leva 50% dos consumidores a descartar compras para o segundo domingo de maio

Bruno Rosa

Apesar do crescimento da renda nos últimos meses, os consumidores, cada vez mais endividados, ainda não se animaram para as compras do Dias das Mães. Inseguros com as recentes altas nas taxas de juros do país, com impacto direto no crédito, metade deles vai deixar de presentear na segunda data mais importante do ano para o comércio varejista, atrás apenas do Natal. É o que aponta levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS). Mas os lojistas ainda apostam em alta nas vendas de última hora, nos dias que antecedem a data, comemorada no segundo domingo de maio.

Segundo o levantamento, os filhos não querem pôr o orçamento em risco e, dos dispostos a gastar, 48,9% estão optando por lembranças de até R$ 50. Outro sintoma da insegurança é a opção de 70% deles pelo pagamentos à vista, apesar do crédito farto. Do total, 51,7% pretendem pagar com dinheiro vivo. Para o coordenador do IBPS e do Programa de Estudos Políticos da Uerj, Geraldo Tadeu Moreira Monteiro, a fuga dos parcelamentos é reflexo do ciclo de altas da taxa básica de juros. A Selic está em 19,5% ao ano e deve subir mais ainda, conforme revelou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na quinta-feira.

– Os consumidores estão fugindo dos juros. Por isso, metade não pretende comprar nada. O varejo só deve perceber alguma melhora na reta final, com as compras de última hora movidas pelo impulso – afirma Monteiro.

Antônio Cesar Carvalho, da Acomp Consultoria, concorda com os resultados.

– Até fevereiro havia uma expectativa positiva no comércio. Porém, as discussões sobre possível elevação de impostos (relativos à Medida Provisória 232, que acabou derrubada no Congresso no fim de março), e a alta dos juros desanimaram os empresários, que passaram a segurar os investimentos. Isso reflete nas promoções pouco atraentes.

Para ele, a retração do consumidor, que evita dívidas por já estar com o orçamento comprometido, é visível pela compra de presentes baratos. Prova disso é o resultado de pesquisa recente da Serasa, que indicou o índice recorde de 20,8 cheques devolvidos por mil emitidos em março. O índice de março ultrapassou o indicador de maio de 2003, mês em que foram registrados 17,6 cheques a cada mil, até então o maior volume verificado.

Dando prosseguimento ao aperto, metade dos entrevistados pretende realizar o almoço de Dia das Mães em casa. Para outros 30%, a confraternização será na casa de parentes. Para fazer o termômetro do Dia das Mães, o Instituto Brasileiro de Pesquisas Sociais entrevistou 400 pessoas no Rio de Janeiro ao longo da semana.

– Sei que vou ganhar apenas lembranças neste Dia das Mães porque a situação está difícil para todo mundo – explica Carla Faria, de 30 anos, com o filho João Pedro, de dois meses.

A psicóloga Jennifer Santos, de 32 anos, foi ao shopping pesquisar os preços de roupas para presentear a mãe e a sogra. Ela garante que pretende comprar à vista algo em torno dos R$ 40.

– Acabei de ser mãe. Já estou tendo muitos gastos. Vou tentar lembrar da minha mãe e da minha sogra – diz ela, enquanto fazia compras no Shopping Rio Sul acompanhada de Nelson, de oito meses.

O medo dos juros é comprovado quando os números do IBPS apontam que a compra de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, geralmente parcelada, está nos planos de apenas 3% dos filhos. Este ano, o vestuário conquistou 19,1% dos entrevistados e encabeça a lista dos presentes. Os tradicionais celulares aparecem em quinto lugar, com 1,5% da intenções de compra. E 61,1% dos entrevistados ainda não decidiram qual presente comprar para a mãe.

 

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