Domingo,15 de setembro de 2002


As apostas para o Natal
Comércio cauteloso e indústria pessimista:
menos importados e preços mais altos


Se pudessem, os empresários do setor varejista esperariam um pouco mais para fazer sua encomendas de Natal às indústrias. A três meses do fim do ano, entretanto, tentam abstrair a conjuntura incerta e desfavorável para definir os produtos e as quantidades que venderão para as festas de fim de ano.
Em todos os setores, do eletroeletrônico ao de alimentação, passando pelos brinquedos e artigos do vestuário, as estimativas apontam para preços até 20% mais caros que os do ano passado. Principalmente nas etiquetas dos produtos importados, que aliás, estarão menos presentes nas prateleiras.

Por esses motivos, o dólar já está sendo considerado o vilão do Natal, nas palavras do empresário Nelson Sendas.

A alta do dólar vai acelerar mudanças de hábito. Os consumidores tendem a trocar, por exemplo, frutas secas, importadas, pelas frescas, nacionais.

Se os supermercados têm como compensar o mix de produtos, os fabricantes de televisores estão sem saída, já que 50% dos insumos utilizados na fabricação de televisores são importados. A conclusão é que os preços vão subir e as vendas vão na direção oposta.

Se o dólar não cair, vamos ter de repassar para nossos preços - diz o gerente de marketing da Philips, Sérgio Kattwinkel.

As boas notícias ficam por conta das ofertas de empregos temporários. Algumas empresas já abriram os processos de seleção para reforçar as equipes de venda, como a loja de departamentos Leader. A tendência no comércio, porém, é de menos vagas em relação às contratações realizadas nos últimos anos.

Outro ponto positivo é que, em dezembro, os brasileiros já saberão o nome do novo presidente da República.

O clima mais claro, menos incerto, somado ao pagamento do 13º salário, pode animar o consumo e surpreender as empresas, que são obrigadas a fazer suas apostas com antecedência - avalia o especialista Antonio César Carvalho, da Acomp Consultoria e Treinamento.


O dilema dos supermercados
Risco nos prazos e nos estoques

Luciana Brafman
Editora-assistente de Economia

O bacalhau, as frutas secas e as bebidas importadas estarão presentes em menor quantidade nas mesas natalinas deste ano, de acordo com as previsões do setor supermercadista. Quem fizer questão das iguarias estrangeiras vai arcar com preços cerca de 20% mais caros que os do ano passado, devido à alta do dólar. Os produtos nacionais, por sua vez, também terão aumentos, ainda que em menor escala.

Há uma demanda reprimida. No fim do ano, as pessoas vão dar vazão. Os lojistas podem aproveitar para aumentar as margens de lucro e compensar o faturamento de um ano ruim - explica Antônio Cesar Carvalho, da Acomp Consultoria e Treinamento.

O consultor conta que os supermercados estão agindo com cautela nas encomendas às indústrias. Projeções erradas significam estoques encalhados ou falta de produtos para atender a uma demanda subestimada. Resultado: prejuízo nos dois casos. Por isso, o mês atual é tão delicado para o varejo. Segundo Carvalho, na dúvida para definir as quantidades que o mercado poderá absorver, os lojistas reduzem os itens importados, principalmente os perecíveis, como passas e nozes.

Postergar as compras, esperando as coisas se definirem não é solução, porque, na última hora, as fábricas terão problemas para produzir e entregar a tempo.

A Sendas optou por reduzir a compra de importados, mas preferiu não arriscar no prazo.

Pedimos 25% menos de importados e negociamos descontos lá fora. Apesar disso, o preço vai subir diz Nelson Sendas.

A Redeconomia, que reúne 16 supermercados e 92 lojas, também já fez seus planos.

A quantidade de importados está bem menor que no ano passado - revela o diretor Ronaldo Teixeira.

Segundo ele, os consumidores vão optar pelas carnes nacionais em substituição ao bacalhau. Sorte de produtores como a Perdigão. A empresa, que não depende da importação e concentra 95% das vendas de Chester no fim do ano, estima um aumento de 5% a 10% em relação a 2001, quando foram vendidas 5,5 milhões de unidades.


 

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