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Segunda-feira, 02
de Julho de 2001
Sistema
de pagamentos exigirá controle rígido de caixa no comércio
Setor prevê redução
de cheques. Alteração preocupa ACRJ
A implantação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), determinado pelo
Banco Central para tornar mais ágeis e seguras as transações com cheques,
trará dificuldades para controle do fluxo de caixa de pequenos e médios
comerciantes. Para evitar esses problemas, a Associação Comercial do Rio
de Janeiro (ACRJ) realizará um seminário no próximo dia 23 apresentando
o novo sistema aos varejistas. Além disso, a ACRJ está desenvolvendo um
site com informações didáticas e um canal de perguntas e respostas sobre
o SPB.
Com início da compensação on-line, previsto a princípio para novembro,
o que acontecerá na prática é que os cheques acima de R$ 5 mil poderão
ser compensados quase imediatamente, alterando o atual procedimento de
créditos ou débitos aplicados às contas no dia seguinte.
A principal conseqüência será a exigência prévia de provisões para garantir
liquidez às operações bancárias, o que implicará no controle rígido de
fluxo do caixa de empresas. Especialistas dizem que as alterações vão
provocar o uso ainda mais intenso do meio eletrônico nas transações financeiras,
o que poderá significar uma expressiva redução na emissão de cheques.
SPB exige controle de caixa rígido no comércio
Associação Comercial do Rio realizará seminário este mês para debater
as alterações do sistema de compensação.
Na primeira etapa, as novas regras do chamado Sistema de Pagamentos Brasileiro
(SPB) vão exigir gastos bilionários pelas instituições bancárias em infra-estrutura
de tecnologia. Especialistas estimam que os investimentos poderão totalizar
US$ 2,9 bilhões em sistemas para ampliar a interligação dos pares do mercado
financeiro e a chamada conta reserva vistoriada pelo BC.No caso dos bancos,
do total de US$ 2,9 bilhões que deverão ser gastos este ano em tecnologia
da informação, o diretor da consultoria Servnet, Francisco Camargo, estima
algo entre 20% e 25% do montante (até US$ 600 milhões) será direcionado
a planos de contingência (garantia de funcionamento em caso de panes localizadas).
Na ponta dos usuários, ou seja, os setores econômicos organizados não-financeiros,
também serão necessários ajustes de adaptação às regras, que prometem
ser um divisor de águas, dada a perspectiva de liquidação on-line das
operações com cheques.
Para especialistas, os intensos recursos aplicados em automação e os custos
menores das operações on-line vão motivar as instituições bancárias a
barrar o uso de cheques, por meio da cobrança de tarifas bancárias mais
caras.
O tema é tão estratégico que a Associação Comercial do Rio de Janeiro
(ACRJ) acerta os detalhes para a realização de um seminário sobre o SPB
no dia 23 de julho, com a participação de técnicos do Banco Central, do
Banco de Brasil e de entidades representativas da área financeira
Para o presidente da ACRJ, Marcílio Marques Moreira, é necessário investir
em conhecimento para que a aplicação das normas do SPB não comprometa
o fluxo de caixa, principalmente das pequenas e médias empresas. 'O risco
existente no sistema hoje será menor com as novas normas do que foi com
o Proer, e a administração do fluxo de caixa será fundamental porque a
compensação será muito mais rápida'.
Para o diretor do Instituto Fecomércio-RJ, Luiz Roberto Cunha, o novo
sistema será benéfico pela redução do risco e poderá alavancar o uso de
cartões de débito pelos consumidores e oferecer mais segurança ao comércio.
Cunha acredita que o cheque pré-datado, pela relação de confiança entre
empresa e consumidor, também terá seu uso ampliado. 'O custo do varejista
nas transações financeiras será menor com operações que independem de
juros altos', destaca.
O setor de factoring é um dos mais citados por especialistas a ter problemas
de retração de atividade, no rastro do encolhimento do uso de pré-datados.
O presidente da Associação Brasileira de Factoring, Luiz Lemos Leite,
rebate a previsão. Ele lembra que o segmento de cheques tem uma representação
não muito expressivo nos negócios das empresas. No ano passado, por exemplo,
dos R$ 24,3 bilhões movimentados nacionalmente (no Rio, o total foi de
R$ 1,2 bilhão), apenas 20% foram relativos à compra de direito sobre cheques
de terceiros transferidos por pessoas jurídicas. O grosso da movimentação
decorre ainda de títulos, como duplicatas.
Para a superintendente técnica da Andima, Valéria Coelho, o principal
mérito das novas regras é de dar maiores salvaguardas às operações financeiras
e reduzir seu risco, pela perspectiva de liquidação quase imediata das
transações.
Erica Ribeiro - ericaribeiro@gazetamercantil.com.br
Vagner Ricardo - vagnerricardo@gazetamercantil.com.br
Consultores afirmam que mudança traz riscos
Especialistas em varejo acreditam que o setor terá de efetuar fortes ajustes
para sobreviver perante as regras do Sistema de Pagamentos Brasileiro
(spb), em particular os estabelecimento de pequeno e médio portes. Professor
da cadeira de varejo da Fundação Getúlio Vargas, o consultor Antônio Galvão
Vasconcelos afirma que as mudanças poderão afetar sobretudo o uso de pré-datados,
uma das principais formas de viabilizar negócios dos pequenos estabelecimentos.
O consultor acredita que isso possa tornar os pequenos e médios comerciantes
'órfãos de capital de giro' e, em caso extremo, sem capacidade de sobrevivência,
dada a falta de outras linhas de créditos.
O consultor Antônio César de Oliveira, da Acomp Consultoria e Treinamento,
prevê também que o varejo será afetado negativamente. A perspectiva de
retração no uso dos cheques, em benefício dos meios eletrônicos, é uma
notícia ruim e pode não só reduzir o nível de negócios, mas simultaneamente
elevar os custos operacionais do comércio pela maior dependência às administradoras
de cartão de crédito ou às instituições financeiras.
Isso porque, explica Oliveira, 'os cheques representam uma forma de reduzir
juros nas compras parceladas e escapar das taxas cobradas pelas administradoras
de cartões de crédito pelo uso do serviço ou dos juros bancários.
© GAZETA MERCANTIL
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