PORTO ALEGRE, Segunda-feira, 23 de maio de 2005

Economia

Alta dos Juros modifica planos de compra

CONSUMO Taxa Selic acumula alta de 23,4% desde setembro de 2004 e afeta principalmente quem só pode recorrer ao crediário

MARTA SFREDO
Colaborou Joana Saraiva
FOTOS ANTÔNIO PACHECO/ZH


Regra geral, é assim: justamente as classes de menor poder aquisitivo são as mais afetadas pela elevação da taxa de juro.


Pressionadas pela necessidade e sem renda para bancar compras à vista, as pessoas com renda mais baixa são obrigadas a recorrer aos parcelamentos mais longos e, em conseqüência, mais caros.


– Nas classes E, D e C, o consumidor só quer saber se a prestação cabe no bolso, não interessa se a Selic está a 10% ou a 50%. Já as classes B e A são mais críticas e, com uma consciência maior do custo do juro, procuram direcionar o consumo de outra forma – afirma Antônio César Carvalho de Oliveira, sócio-diretor da Acomp Consultoria e Treinamento, especializada em varejo.

Desde setembro do ano passado, a taxa básica de juro, a Selic, saiu de 16% para atingir na semana passada 19,75%. A alta acumulada chega a 23,4%, um salto que começa a preocupar o comércio.

– Estamos prevendo o pior mês de maio dos últimos tempos. O consumidor está muito retraído. Caiu muito o fluxo – diz Arnildo Heimerdinger, gerente de vendas e marketing da Região Sul da Lojas Arno/Magazine Luiza.


O efeito psicológico das altas mensais acaba minando o ânimo do consumidor, pondera Heimerdinger.

– Com certeza, vai haver queda nas vendas. Em relação ao que projetávamos para este mês, esperamos uma redução mínima de 10%.


Recuperação das vendas à vista é uma das tendências.

Para o diretor-superintendente da Lojas Colombo, Eldo Moreno, o juro alto projeta duas tendências opostas para o consumo: aumento no número de prestações e alguma recuperação das vendas à vista. A segunda alternativa seria favorecida pelo efeito do crédito consignado (com desconto em folha de pagamento), que tem suavizado o freio imposto na economia pelas sucessivas elevações da Selic.

– Oferecemos prazo de até 15 vezes, mas o número médio de prestações é de sete. A companhia sempre adotou uma postura de não correr riscos desnecessários – explica Moreno.

Luiz Carlos Ewald, autor do livro Sobrou Dinheiro! e professor da Fundação Getulio Vargas, reforça a tese de que o crédito consignado acabou amortecendo o efeito da alta da Selic nas taxas de ponta. A migração de tomadores de recursos no crédito consignado, de custo mais baixo, acabou aumentando a concorrência nas outras linhas e limitando o repasse da taxa básica.

– É um paradoxo burro. O que adianta aumentar a taxa de juro para conter a inflação se está irrigando o consumo na outra ponta com o consignado? – indaga Ewald.


Longe das taxas

Um aparelho de som novinho, na caixa, costuma ser motivo de alegria. Mas, na casa da porto-alegrense Maria Gomes, 50 anos, virou pomo de discórdia. Tudo ia bem até Maria perceber que na compra feita pelo marido, com pagamento parcelado em 10 vezes, os juros estavam incluídos. A telefonista, que trabalha na prefeitura de Porto Alegre, tomou uma decisão drástica para não fugir do propósito de evitar juro: fez o marido arcar sozinho com a diferença entre o valor à vista e o parcelado. Só dividiu o restante. Na hora de comprar o Ford Ka zero quilômetro que queria, escapar dos juros foi uma tarefa um pouco mais difícil. Mas não impossível. Maria economizou parte de seu salário, de R$ 1,5 mil, entregou o carro que tinha e pagou à vista a diferença:

– Se me vendem sem juro, ótimo. Se não querem, procuro em outro lugar.




Desligada dos percentuais

Uma parcela que caiba no bolso. É assim que Maria Cristina Dias, 36 anos, decide suas compras. O carnê da geladeira, comprada em janeiro sob pagamento em 11 vezes, consumirá R$ 112 até o final do ano. Na casa onde a passadeira mora com o marido Celso, 42 anos, que trabalha como porteiro, e os filhos Natália, 17, e Rafael, 10, o pagamento da geladeira é a segunda maior despesa no orçamento de R$ 1 mil, atrás apenas dos gastos com alimentação. Se o produto tivesse sido comprado à vista, teria custado, conforme Maria Cristina, R$ 1 mil. A diferença de R$ 232, gasta só para pagar juros, assusta Maria Cristina. Mas ela explica que reunir o valor total seria mais custoso.

– Sempre parcelo o máximo que posso, para sentir menos no fim do mês – explica Maria Cristina, que está pagando também a prestação da televisão, adquirida em novembro de 2004.

Os negócios

A proporção das compras à vista e dos pagamentos a prazo na Capital:

ANO - À VISTA - A PRAZO

1996 - 42,80% - 57,20%
1997 - 45,43% - 54,57%
1998 - 45,56% - 54,44%
1999 - 44,23% - 55,77%
2000 - 45,36% - 54,64%
2001 - 41,80% - 58,20%
2002 - 43,20% - 56,80%
2003 - 42,30% - 57,70%
2004 - 39,20% - 60,80%
2005* - 32,30% - 67,70%

(*) Dados parciais até abril.

As informações são baseadas somente em Porto Alegre, a partir de pesquisa com os cerca de 4,3 mil associados da CDL. De 1996 a 2001, era feita em parceria da FEE com a CDL/Porto Alegre. De 2002 até agora, a CDL assumiu a coleta dos dados.

Fonte: Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL)

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu elevar pelo nono mês seguido os juros básicos da economia. A chamada taxa Selic subiu de 19,50% para 19,75% ao ano, alta de 0,25 ponto percentual.


Pagar a prazo ou à vista?

Quando o cliente chega diante do caixa, surge o dilema: pagar à vista o mesmo preço que a loja aceita dividir em várias prestações ou insistir num desconto?

Não são poucos os consumidores que, mesmo tendo dinheiro para quitar o pagamento, acabam parcelando para não arcar com o custo do juro embutido.

– Deve-se sempre insistir no desconto para pagamento à vista – recomenda o consultor Antônio César Carvalho de Oliveira.

Uma das dificuldades que as grandes redes demonstram para atender ao desejo dos compradores, explica Oliveira, é o Código de Defesa do Consumidor. A lei determina que o preço parcelado tem de ser igual ao cobrado à vista, explica o consultor.


Consumidor deve negociar na loja.

Com milhares de vendedores para instruir, as lojas acabam padronizando a regra – o preço não muda, independentemente da forma de pagamento.
Na prática, pondera Oliveira, um pouco de insistência do consumidor pode mudar o quadro.

– A venda a prazo pode dar ganhos financeiros às lojas, mas, na venda à vista pesa outro fato, que é a liquidez. Se pedir para falar com o gerente, o cliente acaba fazendo um bom negócio – orienta o consultor.

Embora as grandes redes de lojas tenham se convertido às vantagens dos ganhos financeiros, até em decorrência da padronização dos produtos,
Oliveira adverte que essa estratégia não pode necessariamente ser seguida por todo o varejo.

– Esse é um nicho para quem tem bala na agulha, mas quem não tem experiência em análise de crédito corre riscos – afirma o consultor.

 

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